A gente inventa definições pr’aquilo que a gente morre de medo: tudo que não dá pra ver, nem tocar.
Pra prevenir o ogro lá dentro de correr furioso por aí, o jogamos numa gaiola de quatro letrinhas, apertado e desconfortável. A gente chamou esse ogro de Ódio e o expôs na vitrine do zoológico.
Com vergonha de mostrar aos vizinhos, trancamos o louco no quarto dos fundos, de paredes acolchoadas pra que não se machucasse. Esse a gente apelidou de Alegria.
A água salgada do nosso mar, a gente colocou numa esfera com rótulo de letras garrafais em cinza: Tristeza.
Capturamos o lobo vermelho-incandescente, encoleirado por um enforcador, a gente o prendeu ao pé da nossa cama chamando–o de Amor.
E por fim… Temendo os coices do corcel fogoso, a gente lhe pôs um cabresto, forçou-lhe na boca um bridão, jogou em seu dorso uma sela; Cortamos sua crina e marcamos, em ferro quente, na sua garupa, a palavra LIBERDADE.
P.S.: Nem esporas, nem chicotes, nem arreios o impedem de derrubar os que ousam montá-lo. Nem pastos, nem baias, nem redondéis são capazes de conter seu disparo… E quando este dispara, liberta, leva consigo o louco em seu dorso, o lobo em seu encalço e o ogro – carregando a esfera na mão.
A gente inventa definições pr’aquilo que a gente morre de medo…
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