25 de nov. de 2012

A Chave


Quis um dia usar destas palavras pra expressar o que não conseguia tirar do peito pela voz. Achava que ao escrever ecoaria o grito que existe em mim. Por isso aos brados eu me situava e no auge emocional despejava-me desesperadamente nos meus escritos. Mas ao calar eu trancava e colecionava sensações que me adoeciam, me enegreciam.
Fui atormentada por muito tempo. Angustiada pela minha própria raiva. E travei uma batalha que não poderia nunca ser vencida, pois não era destinada a travá-la. Ora, não se luta contra si mesmo sem ser destruído. Compreendi quando soltei as amarras do nó na minha garganta e me pus a orar. Orei até acreditar em mim mesma, até minha voz ser firme e ressonante e assim me tornei translúcida. Percebi então que a dor só perdura a quem lhe permite a estadia, e sobre isso me prostrei resoluta e invencível.
E como o ar que infla meu peito, me tornei irremediável e forte, não por rigidez e sim por ser volátil.
E como a brisa que roça sutilmente, assim é minha serenidade e meu senso de desapego.
E como os ventos soprando, contorno muros e transito em penhascos.
E como um furacão, dou fim aos alicerces enfraquecidos, e ofereço a perspectiva da renovação.
Se antigamente eu urrava, hoje conto segredos, relato-os baixinho para mim mesma, basta que eu preste atenção. Guardado no sigilo das minhas palavras não há mais súplica ou rancor. Há a descoberta gradual da incógnita que nós somos.