Quis
um dia usar destas palavras pra expressar o que não conseguia tirar do peito
pela voz. Achava que ao escrever ecoaria o grito que existe em mim. Por isso
aos brados eu me situava e no auge emocional despejava-me desesperadamente nos
meus escritos. Mas ao calar eu trancava e colecionava sensações que me adoeciam,
me enegreciam.
Fui
atormentada por muito tempo. Angustiada pela minha própria raiva. E travei uma
batalha que não poderia nunca ser vencida, pois não era destinada a travá-la.
Ora, não se luta contra si mesmo sem ser destruído. Compreendi quando soltei as
amarras do nó na minha garganta e me pus a orar. Orei até acreditar em mim
mesma, até minha voz ser firme e ressonante e assim me tornei translúcida.
Percebi então que a dor só perdura a quem lhe permite a estadia, e sobre isso
me prostrei resoluta e invencível.
E
como o ar que infla meu peito, me tornei irremediável e forte, não por rigidez
e sim por ser volátil.
E
como a brisa que roça sutilmente, assim é minha serenidade e meu senso de
desapego.
E
como os ventos soprando, contorno muros e transito em penhascos.
E
como um furacão, dou fim aos alicerces enfraquecidos, e ofereço a perspectiva
da renovação.
Se
antigamente eu urrava, hoje conto segredos, relato-os baixinho para mim mesma, basta
que eu preste atenção. Guardado no sigilo das minhas palavras não há mais
súplica ou rancor. Há a descoberta gradual da incógnita que nós somos.