5 de abr. de 2011

Tácito

(Cruzo com seu olhar que me agarra a sanidade e sou sua por instantes, mal disfarço e confesso que quero mais de você. A ideia do seu cheiro doce me invadindo como um feitiço, a delícia que deve ser ver sua boca entreaberta esperando pelo encaixe da minha. Imagino se suas mãos agem num carinho discreto ou num toque brusco... e se talvez me peçam para ir mais além ao deixar marcas, um pedido mudo de desafio. Quantas vezes já não imaginei qual seria a textura da sua pele?

Dá-me sua garganta que tanto me atrai os lábios; sua voz, seus sons. Eu prometo segurar minha sede e ser paciente... tomar meu tempo te ouvindo, te despindo, te adorando. Descobrir suas expressões, seus arrepios. Compreender com o que tanto divaga. Se me escuta, quem sabe confidencio meus desejos, torno-me parte dos seus. O que eu não faria para te ter?)

Reza

Prometi à mim mesma que não mais ia negar essa melancolia, nas noites em que ela me visita abraço-a e me torno uma só a dançar envolta em breu, e meu corpo magoado vai oscilando ao som do réquiem de um amor.

(Percebo que o sangue dos meus cortes é uma mistura de quando entreguei minha essência a outro alguém.)

Que agora eu seja fluida como a água, e que a água do meu corpo flua pelos olhos até me secar.

(... levando consigo a amargura que me afoga.)

Assumo a dor e o ódio que moram em meu interior,

(Na minha alma existe uma maldade como a de um cão agredido.)

o meu animal se tornou um monstro cruel e passou a me canibalizar.

(Ele me agride por não mais me pertencer.)

Afago-me amansando-o aos poucos, amansando-me de mim mesma.

E se mesmo assim eu não conseguir, tenho aqui as palavras que me refugiam.

(E como em uma oração, peço-as que me protejam, porque procuro a fé que há tempos míngua em meu coração.)