13 de jun. de 2010

Geada

Quanto enfado! Há muito que nada lhe sequer perturbava.

Andava sem rumo, reduzindo a cinzas os campos de trigo, incendiando florestas, cruel passatempo de causar caos por diversão, pela pura paixão.

Seu corpo palpitava inteiro: fervendo queimando ardendo insuportavelmente – temperatura nociva ao toque comum. Julgou o mundo intolerável ao seu calor e prendeu-se ao seu ego, enfadada. Onde estaria o alvoroço pelo qual procurava? Necessitava tanto consumir tal chama… Que esta já lhe custava a agonia de não mais abrandar.

Bate o sopro gélido. De quem era essa presença?

Fitou-a de longe, mãos formigando, olhos em combustão. Interessou-se e aproximou-se, ansiando tocar a pele que lhe causava friagem. O embate imediato de auras – geada e brasa – arrebatou seus sentidos, aplacou a vibração de sua chama: deleite imediato. No impulso uniram as bocas os corpos as almas, mergulhados em irresistível contraste: frescor suor alvo rubro fogo gelo… Umidade. E entregaram-se aos desvarios.

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