13 de jun. de 2010

Por fora

Eu pego esta minha vontade louca de ser em desenfreio e vou transbordando-a no papel, devagarinho para não borrar, esparramando sangue, suor, saliva, pranto. Pedaços misturados de mim, arrancados para não me explodir. Este corpo, este nome, esta vida não me cabem. Eu não consigo me caber. Sou intranquila porque algo muito grande mora em mim. Algo que eu não consigo tirar. Tenho a impressão de que se tiro eu morro. Ele é todo vivo em mim. Esse algo toma o ar em sua volta ruidosamente, sempre vigilante. Tem pêlo negro e olhos rubros, por vezes ruge por outras mia. Não sei o que come, é algo entre carne e sangue, noite e lua. É fera que carrega consigo sensação muito bela e melancólica, anda entre silêncio e solidão. Eu tenho medo dela porque ela me possui. Eu pertenço a essa fera. Há algo muito indomesticável nela que domestica a mim. Ela sabe ferir mas me permite o afago, eu tenho cicatrizes. E a amo porque é a única que me causa tanta dor. Eu não sou humana.

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